História do cinema em Torres
No início da década de 1940, ainda que improvisadamente, Torres já possuía uma “sala de cinema”. Por iniciativa do Sr. Paulo Martins de Lima, um projetor portátil 16mm, utilizava a parede da então “escola da vila de Torres”, a antiga escola Cenecista, para brindar os torrenses e visitantes com o que melhor se produzia, em termos de Sétima Arte, na época.
A essa sala ao ar livre seguiram-se o Cine Marajó, de propriedade do Sr. Ídio K. Feltes, com seu caráter quase itinerante, visto ter o mesmo funcionado em diferentes endereços, como o Hotel Farol, o antigo Clube Riograndense, ou as atuais instalações do banco Bradesco, ao longo de suas atividades; o Cine SAPT, com suas salas localizadas, em distintas épocas, às ruas José Picoral e Júlio de Castilhos, que inicialmente só permitia o acesso a sua sala de cinema aos sócios do clube; o Cine Ronda, propriedade do casal Nicola e Maria Zoanni, o primeiro e até hoje, mesmo que não mais exista, único “cinema de bairro” de Torres, com as suas amplas acomodações, onde hoje funciona o SENAC; e os mais recentes palcos dessa aventura octagenária, os cinemas Hawai e Dunas, onde platéias de todas as faixas etárias se divertiram ao sabor do som e das imagens das grandes produções brasileiras e “hollywoodianas” do final do século XX e início do século XXI.
Cronologia Cinematográfica em Torres
- 1927: José (Zequinha) Ignácio Picoral produz o documentário “Torres”, um longa metragem que segundo o crítico de cinema Antônio Jesus Pfeil foi um dos pioneiros trabalhos na área do cinema de cunho social.
- 1952: é lançado “Vento Norte”, primeiro filme produzido no Rio Grande do Sul (longa metragem) a utilizar som. A película teve a colaboração de Josué Guimarães (diálogos) e Luís Cosme (trilha sonora). A direção do filme ficou sob a responsabilidade de Salomão Scliar, e o ator principal do mesmo foi Roberto Bataglin.
- 1971: Alberto Ruschel produz, dirige e é o principal ator do filme “Pontal da Solidão”. Apoiado por um elenco que contou, inclusive, com atores locais, a produção foi bem aceita pelo público, e a grande curiosidade em relação a mesma é o fato de o seu “set” de filmagem ter sido realizado, em grande parte, numa construção edificada entre o Morro das Furnas e a Guarita.
- Década de 1980: filmes como o do cantor regionalista Teixeirinha, “A Filha de Iemanjá”, ou produções independentes como “Calma Violência” e “Salário Mínimo”, com direção/atuação de Lucas Webber e atuação de
Cláudio Romário, entre outros, recolocaram Torres, ou ao menos cidadãos torrenses novamente no mapa cinematográfico gaúcho e brasileiro.
Paulo Martins de Lima
Segundo o relato de Oscar Martins de Lima, 74 anos, engenheiro aposentado, as primeiras apresentações eram feitas por seu pai nas paredes da antiga Escola Estadual Marcílio Dias, hoje atual prédio da Escola Cenecista de Torres:
Meu pai era especializado neste assunto de projeção de cinema e montagem de cinemas profissionais, trabalhava com uma empresa inglesa comercializando estes equipamentos. Aqui em Torres ele começou por conta própria umas projeções na rua, lá em cima no farol, onde hoje é o Cenecista. Naquela marquise penduravam um lençol de casal como tela, e nas noites de sábado, principalmente, os veranistas e moradores que haviam na época, mais ou menos 1948 até antes, pegavam cadeiras, lonas etc., e sentavam no gramado para assistir as projeções.
Fonte: LIMA, Oscar Martins de, 73 anos, Torres/RS. Entrevista concedida à Rute Almeida da Silveira em 19/06/2010. Monopgrafia:
PROJETOR DE MEMÓRIAS UM OLHAR DO PÚBLICO SOBRE O CINE RONDA (TORRES/RS 1950 – 1960)
Cine Marajó Década de 1940
Salas do cine Marajó
O Sr. Oscar também relata o surgimento daquele que teria sido o primeiro cinema em ambiente fechado de Torres, o Cine Marajó: O Ídio K. Feltes, que era um fotógrafo conhecido dele, tinha uma pequena lojinha de ferragens na Júlio de Castilhos. O seu Ídio K. Feltes procurou meu pai pra fazer um pequeno cinema aqui, pra funcionar o ano inteiro, ele achou que era um bom negócio, o pai conhecia muito o assunto e acabou vendendo para ele uma aparelhagem de dois projetores, dessas pequenas que ele recebia em troca. Isso eu acredito que foi em 1948, esse seria o primeiro cinema dentro de uma sala aqui em Torres.
Fonte: LIMA, Oscar Martins de, 73 anos, Torres/RS. Entrevista concedida à Rute Almeida da Silveira em 19/06/2010. Monopgrafia: PROJETOR DE MEMÓRIAS UM OLHAR DO PÚBLICO SOBRE O CINE RONDA (TORRES/RS 1950 – 1960)
CINE SAPT-Década de 1960
Cine Ronda década de 1980
Início do Cine Ronda - Década de 1940
Nicola Valosiewitch Zoanni
A primeira fase do Cine Ronda é descrita com mais fidelidade através de relatos dos frequentadores, como o Sr. João Dalolli, 80 anos, comerciante aposentado.
Irene contava com pouco mais de dois anos na época e por isso não tem lembranças vívidas de sua chegada a Torres. A primeira fase do Cine Ronda é descrita com mais fidelidade através de relatos dos freqüentadores, como o Sr. João Dalolli, 74 anos, comerciante aposentado.
Tem o prédio do antigo Anexo do Farol Hotel, [...] era um terreno baldio onde ele [Zuanni] fez um barracão tipo coisa de cigano, e ele passava os filmes ali, eu era pequeno. Não lembro se já tinha nome, porque o Cine Ronda foi por causa do bairro.
Fontes: DALOLLI, João Maciel e ZOANNi , Irene, Torres/RS. Entrevista concedid a a Rute Almeida da Silveira em 17/06/2010. Monopgrafia: PROJETOR DE MEMÓRIAS UM OLHAR DO PÚBLICO SOBRE O CINE RONDA (TORRES/RS 1950 – 1960) - UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
Filme - Vento Norte
Filme - Pontal da Solidão
«Um dos filmes mais esperados da moderna produção nacional. Estreando como diretor-autor, Alberto Ruschel situa-se num plano diverso de quase todos os seus colegas atores (Dionísio Azevedo, Jece Valadão, Aurélio Teixeira, Egidio Eccio, David Cardoso, John Herbert, Sergio Hingst) que também passaram à realização, obtendo uma obra certamente alheia a certos cânones, mas sem nunca desdenhar o insólito, o inédito, o poético, o extremamente pessoal, o absolutamente seu. A ação, praticamente um duo. Um velho marujo que vive num lugar isolado. A menina (Débora Duarte) que foge de uma provação pensando em suicídio e coloca-se sob sua proteção. E a volta dos criminosos, que ainda pensam em se vingar de sua vítima. Um filme estranho e bonito, “rodado” em maravilhosos locais do Rio Grande do Sul e que precisa ser devidamente apreciado.»
O Estado de S. Paulo, 14.10.1979
Filme - A Filha de Iemanjá
Área Cultural Cine Torres